Artista: COCTEAU TWINS
Álbum: Treasure
Ano: 1984
Gêneros: Post Punk, Dream Pop
País: Reino Unido
Álbum: Treasure
Ano: 1984
Gêneros: Post Punk, Dream Pop
País: Reino Unido
Tal qual um raio de sol iluminando o dia é como surge "A Voz de Deus" na canção que abre o terceiro álbum dos escoceses do COCTEAU TWINS, quando pela primeira vez conseguem extrair o melhor de sua potencialidade melódica, lírica e estética. Não que os trabalhos anteriores fossem ruins, mas a mecanicidade das programações de bateria, especialmente no primeiro trabalho, "Garlands" e a rigidez dos vocais de Elizabeth Fraser na época, quando a banda podia até mesmo ser enquadrada na cena Dark tal a densidade e obscuridade das musicas, desperdiçava exatamente o que a banda tinha de melhor e comprovaria futuramente, que era a melodiosidade instrumental e o potencial lírico de sua vocalista.
Em "Head Over Heels", segundo álbum o caminho começava a ser encontrado, as programações ainda estavam lá e ainda soavam frias, os climas ainda eram sombrios, mas já se notava uma evolução nas composições significativa e sobremaneira uma maior leveza na condução da vocalista, de evidente capacidade até então subexplorada. Mas era então em "Treasure", de 1984, que o milagre acontecia e aquela abertura de álbum, com a voz semi-soprano de Liz Fraser surgindo doce e frágil, como que levantando do horizonte, anunciava que os COCTEAU TWINS encontravam o caminho que seguiriam dali para frente com cada vez maior apuro e perfeição técnica, desenvolvendo como nenhuma outra banda uma música de climas etéreos, incorpóreos, imateriais.
Com uma bela levada de violão à espanhola, "Ivo" tem uma interpretação envolvente e apaixonada de Fraser, fazendo nos refrões algo parecido com pequenos e graciosos soluços. "Lorelei" que a segue é alegre, fresca, cheia de sinos e pirilampos, enfeitando suas variações e brincadeiras vocais. Num clima todo clerical, "Beatrix", com seus teclados sacros sobre uma notável linha de baixo de Simon Raymonde, traz a voz de Liz Fraser no máximo de seu potencial operístico, nesta que é uma das canções mais arrepiantes do disco.
Num álbum cujas canções levam títulos que remetem a seres fantásticos, lendas celtas ou personagens mitológicos, "Persephone" (a deusa dos mundos inferiores na mitologia grega) é uma pequena viagem ao inferno, lembrando muito a sonoridade do primeiro disco, com programação de bateria dura, forte, pesada, marcada, eletrônica, mas aqui claramente com uma intenção formal mais consolidada. Montando uma atmosfera toda sombria e claustrofóbica, somados à batida fria, a guitarra de Robin Guthrie aparece mais ruidosa que nunca, o baixo de Raymonde cria uma espécie de camada sonora e Liz Fraser canta desesperada e angustiadamente, no limite entre o belo e o trágico. "Pandora", a outra deusa grega do disco, ao contrário da anterior, é como uma brisa amena, como uma fonte de água cristalina, como uma chuva de verão, tal a leveza da guitarra de Guthrie e a beleza dos vocais sobrepostos, ecoados e misturados de Fraser, cantando versos ininteligíveis, palavras inexistentes ou meras vocalizações de sonoridade interessante.
Num fado valseado que caracterizaria bem o som da banda dali para a frente, "Amelia", apaixonante, traz mais uma interpretação de tirar o fôlego de Miss Fraser, cantarolando sem letra e explorando toda sua capacidade praticamente de cantora clássica. "Cicely" é mais crua, com a bateria eletrônica soando dura; "Aloysius" tem uma bela melodia de escala decrescente de guitarra; e a nebulosa "Otterley" é praticamente sussurrada sobre leves dedilhados de violão, antecipando a sonoridade que seria tônica no trabalho seguinte, "Victorialand". "Donimo" anuncia o final do álbum com a voz de Liz emergindo com uma doçura incrível, depois florescendo em sons até atingir um êxtase de emoção num final mais que digno para um disco como este.
Embora a banda não morra de amores pelo álbum, possivelmente a partir dele é que o trio escocês escreveu seu nome na história do Rock com uma linguagem absolutamente singular. Muitos trabalham essa linha etérea, muitos a linha Pop-lírico, alguns se parecem, alguns tantos como LUSH, BAT FOR LASHES, ST. VINCENT, THE MOON SEVEN TIMES, surgiram por causa deles; mas nenhum deles conseguiu colocar todos os ingredientes de melancolia, beleza, dramaticidade, paixão, dor, magia, juntos com tamanha perfeição como os COCTEAU TWINS. E isso, aliado à unidade sonora que conseguem, a essa assinatura inconfundível que criaram no universo Pop, somando-se à voz de qualidades únicas e incomparáveis de Liz Fraser, garante a eles seu lugar de respeito no mundo da música e o de "Treasure" entre os fundamentais.
Em "Head Over Heels", segundo álbum o caminho começava a ser encontrado, as programações ainda estavam lá e ainda soavam frias, os climas ainda eram sombrios, mas já se notava uma evolução nas composições significativa e sobremaneira uma maior leveza na condução da vocalista, de evidente capacidade até então subexplorada. Mas era então em "Treasure", de 1984, que o milagre acontecia e aquela abertura de álbum, com a voz semi-soprano de Liz Fraser surgindo doce e frágil, como que levantando do horizonte, anunciava que os COCTEAU TWINS encontravam o caminho que seguiriam dali para frente com cada vez maior apuro e perfeição técnica, desenvolvendo como nenhuma outra banda uma música de climas etéreos, incorpóreos, imateriais.
Com uma bela levada de violão à espanhola, "Ivo" tem uma interpretação envolvente e apaixonada de Fraser, fazendo nos refrões algo parecido com pequenos e graciosos soluços. "Lorelei" que a segue é alegre, fresca, cheia de sinos e pirilampos, enfeitando suas variações e brincadeiras vocais. Num clima todo clerical, "Beatrix", com seus teclados sacros sobre uma notável linha de baixo de Simon Raymonde, traz a voz de Liz Fraser no máximo de seu potencial operístico, nesta que é uma das canções mais arrepiantes do disco.
Num álbum cujas canções levam títulos que remetem a seres fantásticos, lendas celtas ou personagens mitológicos, "Persephone" (a deusa dos mundos inferiores na mitologia grega) é uma pequena viagem ao inferno, lembrando muito a sonoridade do primeiro disco, com programação de bateria dura, forte, pesada, marcada, eletrônica, mas aqui claramente com uma intenção formal mais consolidada. Montando uma atmosfera toda sombria e claustrofóbica, somados à batida fria, a guitarra de Robin Guthrie aparece mais ruidosa que nunca, o baixo de Raymonde cria uma espécie de camada sonora e Liz Fraser canta desesperada e angustiadamente, no limite entre o belo e o trágico. "Pandora", a outra deusa grega do disco, ao contrário da anterior, é como uma brisa amena, como uma fonte de água cristalina, como uma chuva de verão, tal a leveza da guitarra de Guthrie e a beleza dos vocais sobrepostos, ecoados e misturados de Fraser, cantando versos ininteligíveis, palavras inexistentes ou meras vocalizações de sonoridade interessante.
Num fado valseado que caracterizaria bem o som da banda dali para a frente, "Amelia", apaixonante, traz mais uma interpretação de tirar o fôlego de Miss Fraser, cantarolando sem letra e explorando toda sua capacidade praticamente de cantora clássica. "Cicely" é mais crua, com a bateria eletrônica soando dura; "Aloysius" tem uma bela melodia de escala decrescente de guitarra; e a nebulosa "Otterley" é praticamente sussurrada sobre leves dedilhados de violão, antecipando a sonoridade que seria tônica no trabalho seguinte, "Victorialand". "Donimo" anuncia o final do álbum com a voz de Liz emergindo com uma doçura incrível, depois florescendo em sons até atingir um êxtase de emoção num final mais que digno para um disco como este.
Embora a banda não morra de amores pelo álbum, possivelmente a partir dele é que o trio escocês escreveu seu nome na história do Rock com uma linguagem absolutamente singular. Muitos trabalham essa linha etérea, muitos a linha Pop-lírico, alguns se parecem, alguns tantos como LUSH, BAT FOR LASHES, ST. VINCENT, THE MOON SEVEN TIMES, surgiram por causa deles; mas nenhum deles conseguiu colocar todos os ingredientes de melancolia, beleza, dramaticidade, paixão, dor, magia, juntos com tamanha perfeição como os COCTEAU TWINS. E isso, aliado à unidade sonora que conseguem, a essa assinatura inconfundível que criaram no universo Pop, somando-se à voz de qualidades únicas e incomparáveis de Liz Fraser, garante a eles seu lugar de respeito no mundo da música e o de "Treasure" entre os fundamentais.
Postagem original
Faixas:
01. Ivo (3:53)
02. Lorelei (3:43)
03. Beatrix (3:11)
04. Persephone (4:20)
05. Pandora (for Cindy) (5:35)
06. Amelia (3:31)
07. Aloysius ( 3:26)
08. Cicely (3:29)
09. Otterley (4:04)
10. Donimo (6:19)
Duração: 41:19
Músicos:
• Elizabeth Fraser: vocais
• Robin Guthrie: guitarra
• Simon Raymonde: baixo
01. Ivo (3:53)
02. Lorelei (3:43)
03. Beatrix (3:11)
04. Persephone (4:20)
05. Pandora (for Cindy) (5:35)
06. Amelia (3:31)
07. Aloysius ( 3:26)
08. Cicely (3:29)
09. Otterley (4:04)
10. Donimo (6:19)
Duração: 41:19
Músicos:
• Elizabeth Fraser: vocais
• Robin Guthrie: guitarra
• Simon Raymonde: baixo
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